SANDA
Sanda, também conhecido como Sanshou (散打 / 散手) ou boxe chinês, é um sistema moderno de combate chinês desenvolvido originalmente para o treinamento militar em combate corpo a corpo. Embora os termos sejam frequentemente usados como sinônimos, há uma distinção importante: Sanshou refere-se ao lado aplicado e voltado para a autodefesa — um método abrangente de combate real derivado das artes marciais tradicionais chinesas. Sanda, por outro lado, é a versão esportiva do Sanshou. Foi criada para oferecer um formato padronizado e mais seguro para competições, incorporando metodologias modernas de treinamento e regras específicas que permitem aos atletas desenvolver habilidades de combate em um ambiente controlado. Embora compartilhem as mesmas raízes, Sanda é praticado com equipamentos de proteção e regras específicas, excluindo técnicas como torções articulares, estrangulamentos e luta no chão, que estão presentes no escopo mais amplo do Sanshou.
Embora Sanda e Kickboxing possam parecer semelhantes à primeira vista — ambos apresentam socos e chutes em um ringue —, existem diferenças significativas nas estratégias de combate, nas posturas e nas regras de competição. O Sanda (luta livre chinesa) enfatiza uma abordagem híbrida de combate, combinando golpes com quedas, varridas e projeções poderosas, que não são permitidas no Kickboxing tradicional. No Sanda, os lutadores são treinados para quebrar o equilíbrio do oponente, frequentemente capturando chutes para realizar varridas ou quedas no estilo da luta olímpica. A postura no Sanda tende a ser mais ereta e móvel, permitindo transições rápidas entre o ataque em pé e a luta agarrada, enquanto os lutadores de Kickboxing geralmente adotam uma postura mais baixa e quadrada, focada em maximizar o poder dos socos e a estabilidade nas trocas de golpes. Quanto às regras, o Sanda pontua por golpes limpos, desequilíbrios e quedas bem-sucedidas, enquanto o Kickboxing se concentra basicamente na pontuação por efetividade nos golpes. Além disso, no Sanda, é fundamental dominar o controle do espaço do ringue, já que jogar o oponente para fora da plataforma também gera pontuação. Essa combinação entre trocação e projeções torna o Sanda taticamente mais complexo e o diferencia do Kickboxing, tornando-o uma arte marcial única e dinâmica.
Embora o Sanda tenha sido desenvolvido a partir dos princípios do Kung Fu tradicional, é fundamental entender que Sanda não é Kung Fu no sentido clássico. Apesar de se inspirar em diversos estilos tradicionais, o Sanda foi modernizado por meio do treinamento militar, da ciência do esporte e de testes práticos de combate, evoluindo para um sistema de luta independente, com técnicas específicas, estratégias próprias e um sistema estruturado de graduação. Da mesma forma, embora o Sanda possa se parecer com o Kickboxing em alguns aspectos técnicos e no formato competitivo, não é Kickboxing. O Sanda se destaca pela integração de quedas, pegadas de chute e varridas táticas com os pés — elementos que não fazem parte das regras do Kickboxing. Em sua forma e filosofia, o Sanda é uma arte marcial completa e autêntica — não uma variação ou imitação, mas sim um sistema refinado e eficaz por mérito próprio.
Infelizmente, nos últimos anos, muitos instrutores nos Estados Unidos que afirmam ensinar Sanda nunca treinaram em sistemas autênticos de Sanda. Frequentemente, são praticantes de Kung Fu tradicional ou Kickboxing que criaram métodos próprios e os rotularam como "Sanda" com fins comerciais. Embora alguns tenham boas intenções, muitos promovem cursos não autorizados ou enganosos que não refletem os verdadeiros fundamentos técnicos, táticos e filosóficos da arte. O Sanda autêntico é um sistema estruturado de combate, com graduação, currículo e uma rica herança militar e esportiva. Não é simplesmente "Kung Fu com sparring" ou "Kickboxing com nome chinês". Os alunos devem ser cautelosos e buscar instrutores qualificados, com linhagem verificável ou experiência competitiva real, preferencialmente ligados a federações reconhecidas ou treinados sob mestres certificados, tanto nacional quanto internacionalmente.
As raízes do Sanda remontam a 1924, quando o Partido Nacionalista Chinês (Guomindang) fundou a Academia Militar Whampoa na província de Guangdong. Influenciados por conselheiros militares soviéticos — que haviam desenvolvido o sistema de combate Sambo após analisarem as falhas do combate corpo a corpo durante a Guerra Russo-Japonesa —, os militares chineses buscaram criar seu próprio método de luta. Com acesso limitado a armamentos modernos, o foco foi desenvolver um sistema de combate corpo a corpo eficaz, baseado na análise das artes marciais tradicionais chinesas. O resultado foi o currículo chamado Sanshou, que combinava as quatro habilidades fundamentais de combate identificadas pelos chineses:
Da (golpes),
Ti (chutes),
Shuai (quedas),
Na (imobilizações e torções, incluindo estrangulamentos).
À medida que o sistema evoluía, uma versão esportiva foi criada — não apenas como um conjunto de regras, mas como uma forma realista e segura de treinar o combate marcial. Essa versão recebeu o nome de Sanda, preservando as características essenciais do combate real — como socos, chutes, varridas e quedas —, ao mesmo tempo em que adaptava o treinamento para o formato de competição em ringue. É essencial enfatizar que Sanda não é Kung Fu, embora seja influenciado por técnicas das artes marciais chinesas, e não é Kickboxing, apesar de adotar um formato competitivo em ringue. O Sanda é um sistema de luta próprio, com estrutura de graduação, uniformes, currículo e progressão técnica. Assim como o Judô evoluiu do Jiu-Jitsu ou o Sambo da luta russa, o Sanda é uma arte marcial moderna, codificada e com identidade própria.
O Sanda foi formalizado como esporte internacional em 1991, com a realização do primeiro Campeonato Mundial, que estabeleceu uma estrutura global para competições. Cotoveladas e joelhadas, que eram comuns nas lutas militares, foram removidas para garantir a segurança, embora muitas academias continuem ensinando essas técnicas em seus currículos completos. Hoje, o Sanda é praticado em todo o mundo, servindo não apenas como uma modalidade esportiva de alto nível, mas também como um método comprovado de treinamento de autodefesa e combate real. Ele equilibra o espírito das artes marciais tradicionais chinesas com as exigências da eficácia no combate moderno, dentro de um sistema projetado para desenvolver habilidade, disciplina e resiliência.
